Eu já estava à espera da Chris. Sabia que ela viria. Tinha-me telefonado. Quis saber com quem eu estava. Disse-lhe que neste momento não estava com ninguém, nem estava com nada. Disse-me: desta vez vou viver contigo para sempre. Disse-lhe que viesse, pois então. Ficaria à espera.
Conheço-a há muitos anos. É o tipo de pessoa que parece sempre nos ter sido familiar, que nasceu connosco e nos acompanhou desde a infância: sempre por perto nos bons e nos maus momentos. Se fosse capaz de ser justo diria que mais nos maus do que nos bons momentos. Se fosse capaz de ser lúcido até diria que os maus momentos vêm com ela. Mas não sou. Nem posso dizer que ela me tenha seduzido. Entrou na minha vida e ficou. Impôs-se. Quando sai daqui não sei para onde vai. Mas não lhe devem faltar lugares onde ficar.
A minha primeira psicanalista, outra das mulheres da minha vida, disse-me que o saber viver com a Chris tinha a ver com um certo temperamento masoquista da minha parte. Mas depois a Chris foi embora e eu não cheguei a tirar conclusões definitivas. Aliás não tirei conclusões nenhumas.
Já a minha primeira mulher achava que já era mau demais viver comigo quanto mais ainda te de aturar a Chris. Não foi a única causa mas contribuiu para o divórcio. A Locas, a minha segunda mulher, conheceu-me quando eu estava com a Chris e fez o que pôde para me afastar dela. Ainda conseguiu durante algum tempo. Era uma mulher de força, resistente e que gostava de arriscar. Mas três anos depois ela percebeu que eu voltara à Chris e foi-se embora.
Tem havido épocas em que a Chris desaparece sem deixar rasto por períodos longos e outras em que vai e vem a curtos intervalos. Habituei-me a isto. O homem é um animal de hábitos. Ou bastaria dizer que é um animal.
Porque a verdade é que houve ocasiões em que quis livrar-me dela. Sinto isso quase como um pecado. Porque isto é uma relação de amor-ódio: nem com ela, nem sem ela. Quando está, faz-me mal, faz-me sofrer, perco o meu bem estar, perturba-me as rotinas, entro em stress, fico deprimido. E mais tempo de Chris mais deprimido fico.
Felizmente há um dia em que ela se vai. E embora eu nessas alturas normalize a minha vida, fico tão contente que entro num ritmo descontrolado e em pouco tempo lá volto a encontrá-la... como se o meu subconsciente a procurasse.
Agora ela está por cá. Diz que veio para ficar. Até que eu tenha capacidade para a por a andar. Digo eu.
Ivo Cação
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1 comentário:
tantas mulheres, tens práí 100 anos???
gostei da história e agora? a cris basa ou não basa?
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