terça-feira, março 13, 2007

Fronteira

Não tenho contacto com o infinito: imagino-o.
Naquilo que posso, tolero-o.
Mas o que eu vejo e sinto,
o que preenche os interstícios urgentes do vazio,
o que marca todos os passos que dou e submete a minha identidade,
são os limites.

A partir de um ponto, o abismo.
A partir de um momento, a indiferença.
A partir de um fogacho, a luz.
A partir de um sonho, a verdade.

Localizo-me, por isso, na fronteira.
É aí que mudo as minhas vestes
e me enredo nos dilemas de ser.
De um lado está, pouco nítida, a serenidade,
do outro, atormentada, a beleza.
Apenas um efémero fio
entre o apelo da trágica alegria
e o macilento olhar do náufrago.

A lebre e a tartaruga perseguem os meus paradoxos.
Há quem saiba que não sabe
e há quem não saiba que sabe.
Cada passo pode aproximar ou afastar e nunca saberemos.
Há um lado de dentro e um lado de fora que se conhecem
e uma luta permanente por não haver luta permanente.

Não sei nada do infinito.
Os meus encontros diários são com o limite das coisas.
E falam-me de potência e de futuro,
de dignidade e de subtileza.
Engrossam em cada instante novas redomas
onde guardam os testemunhos do esquecimento.

Vivo e convivo com os limites que não entendo.
E percebo tão bem esse infinito que me escapa...

Ikivuku

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