Na base da montanha espera-se um milagre.
Saio de manhã cedo para o meu mistério e vejo agitação nas ruas.
Rostos ansiosos, gestos bruscos, gritos nas vozes.
A sombra é ainda grande e a cidade ilumina-se à mão.
Escolho o trilho mais seco para ouvir no chão os meus pés.
As linhas paralelas encontram-se no infinito.
E uma mentira pode sempre encobrir-se com outra.
A falta de esperança não me entristece.
Nenhum mundo é deste reino.
O movimento muscular aquece o coração e o sonho.
Cada passo presume outro e bastam-se todos com essa certeza.
O cansaço, hoje, ainda está longe.
Vem apenas quando o objectivo já está à vista e já é inútil.
Como os gritos da partida, como os olhares ansiosos, como a esperança.
O tempo acompanha-me calado.
Sinto-o ao meu lado, monótono e irrepetível.
Faz de cada passo uma festa mas a timidez esconde-lhe a exuberância.
Entre mim e ele nem uma palavra.
Porque também o silêncio vem connosco.
É assim que se repetem as minhas manhãs húmidas ou secas.
A própria paisagem deixa-nos passar como se tivéssemos vontade.
Mas a vontade não veio por não saber comportar-se.
Vamos sós, portanto.
Eu, o tempo, o silêncio e a minha carga.
À tarde voltaremos com o cansaço atravessado na garganta.
A sensação perfeita de uma missão não cumprida.
O corpo arrastado na sua segura insegurança.
A roupa colada ao ardor da pele.
Nas ruas, os rostos ansiosos, bruscos, em gritos.
Assustados mas contentes pelo milagre de estarem vivos.
2 comentários:
n fora tão triste e eu gostara muito :P
ok tá mal escrito, vou corrigir:
n fora tão triste e eu gostava muito :P
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