terça-feira, janeiro 02, 2007

Imitação

De quantas maneiras posso eu não saber a mesma coisa?
Fiz as contas e fiz de conta que continuei a não saber.
Que saber poderia eu ter para saber que o meu saber é suficiente?
Não sei, nem sei como saber.
Por isso não sei ainda o suficiente para saber que o que sei é suficiente.
Mas já sei, e estou convicto, que o que sei é mais do que precisava saber para saber o que sei.
Há ocasiões em que sei que já sei tudo.
Não são muito frequentes – diria mesmo que são cada vez mais raras – mas quando acontecem trazem para o elemento instantâneo da memória formas quase certas da existência.
E fico, nesse momento, com certezas quase permanentes sobre o destino e sobre a realidade.
Formas ocultas sem dúvida, sem dúvidas, sem hesitações, sem tristezas, sem tédios e sem medos.
Como se soubesse alguma coisa.
Sabendo ou não sabendo resta sempre alguma dúvida sobre o saber se o saber que se sabe é todo ou apenas parte.
E se um saber que se sabe não sabe se é o saber todo que saber é esse que o saber que sabe não sabe?
Que banalidades haverá para lá do saber tudo?
Posso supor que sei para concluir a seguir que se souber não tenho que supor que sei.
E mesmo que não saiba fico na dúvida se o que não sei é ainda um saber a que falta saber.
Mas o meu jogo há-de ser sempre com o saber.
Não com a mera acumulação de dados – que sei eu? – nem com a estranha ilusão de transformar tudo em números.
O meu jogo há-de ser sempre com essa vacuidade do próprio saber, com aquelas coisas que serão – quem sabe? – universais no tempo e no espaço; saber e conhecimento que não perdem validade nem têm prazo.
O meu jogo é saber do próprio saber uma formulação eterna e insaciável de partículas capazes de conviverem todas no mesmo lugar sem que o espaço-tempo as perturbe.
Mas eu não sei se existe esse saber.
Sei que não sei se existe esse saber e isso é uma forma de saber que posso saber mesmo não saber.
E saber não saber pode ser o saber que é possível quando ainda não se sabe nada.
Porque até hoje, na minha busca desastrada de saber mais, mais não tenho encontrado que saber que não sabe, conhecimento que não conhece, tempo que passa, espaço que se ocupa, energia que se gasta e medo que se renova.

Prólogo

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