Primeiro aprendemos que as histórias começam pelo princípio.
Fica, desde então, o vício paciente de esperar.
Sabe-se, por que sei, que mais tarde ou mais cedo haverá um momento em que tudo começa.
Alinham-se por isso as frases de uma maneira que possa parecer diferente.
Antes de tudo, interessa saber como foi que as coisas começaram.
Dizem que foi no mar.
Há muito tempo, depois de tempestades incompreensíveis.
Dizem que foi por acaso.
Num momento em que nada diria que havia coisas para acontecer.
Dizem que foi num instante.
Ninguém estava lá para apreciar a dor dos protagonistas.
Dizem ainda que não houve milagres.
Dizem também que só há milagres onde alguém os espera.
É fácil passar do particular ao geral.
Difícil é permanecer no particular e sentir contentamento com a prosaica realidade.
Fácil é correr velozmente pela simplicidade concertada da abstracção.
Agora que estamos aqui a olhar para a complexidade inútil das ondas e a medir o sentimento, que admitimos ter começado algures, num momento em que não estávamos atentos ao contador de histórias, façamos um amigável brinde a todos os princípios que ainda não sabemos mas sabemos que nos esperam, ainda que seja numa qualquer espécie de fim.
São válidos todos os caminhos para regressar.
Os sonhos já foram todos apagados pela incerteza.
Há vestígios comuns nos lugares onde já não conhecemos.
Voltámos, como sempre, sem saber aonde.
Nada interessa do que a memória conserva a não ser os desejos.
Dizem que os desejos começam todos no princípio...
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