sexta-feira, junho 30, 2006

A dificuldade de ler (5- P/P5)

Devo nesta altura reconhecer que os dados de que disponho sobre a verdade dos factos são tão fidedignos como quaisquer outros e esses outros de que não vou falar por não os reconhecer como legítimos nem legitimamente os conhecer, não farão parte da realidade que à vista de todos construo.

Ao dizer isto não quero forçar as coisas e meter-me numa história que já afirmei e confirmo não me tem como personagem. Eu limito-me – e a palavra é mesmo esta – a enquadrar os acontecimentos de maneira a que eles façam sentido ou estejam muito perto disso. Cada personagem tem a sua oportunidade e ela não podia deixar escapar o momento em que a atenção se concentra nas cartas.

Ao contrário do que pode parecer ele não dorme. Pergunta-lhe: “amas-me?” “Não sei. Tenho que perguntar às cartas. O mundo é dinâmico e o meu desejo escapa-se por entre os dedos. Amo-te quando estás ausente. Amo-te quando sais daqui em missão e te acompanho pensando nos perigos que corres, na violência que enfrentas, no medo terrível de que não voltes. Mas agora que estás cá, não sei. Tenho que perguntar às cartas, ler na tua mão e na minha e nas mãos do destino. Sei lá o que é o amor. Sei que contigo ausente me preocupo e contigo aqui ainda me preocupo mais. Amo-te como? A que te referes?”
(continua)

Torcato Matos

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