quarta-feira, junho 28, 2006

Caminho

Parte tudo dessa vontade de querer construir fora da realidade.
Começamos pelo rosto inocente, pela pele de bronze uniforme e pelo gesto contido dentro dos parâmetros da impunidade.
São inúmeros e insondáveis os caminhos do senhor.

Sei que me querem culpar de uma herança que recebi.
Tentação genética da sociedade com consumo mínimo obrigatório.
Cada ocasião de resistência só o é se for também ocasião de morte.

Não me defino no sentido obrigatório das consciências e por isso não me defino em lugar nenhum.
Passa-se do gesto obscuro ao inevitável consentimento do medo.
Cada facto é um momento desgarrado das potencialidades, limitando o futuro à evidência e reduzindo a zero a esperança.

São inúmeros e insondáveis os caminhos do senhor.
O meu caminho passa pela sombra; ilumina-se com claridades emprestadas pela indiferença.
Outros diriam que os caminhos onde nos cansamos são o outro lado das caminhas onde descansamos.
Mas isso seria um jogo erótico de conveniência de sons.

Ainda não é possível caminhar sobre as estrelas.
Ouvem-se os gritos como ecos da distância e baixa-se o volume para a perturbação ceder.
Todos os dias há loucas tempestades de areia a apagar o rasto da morte.


Pensa-se em algo para o futuro sabendo de antemão que o futuro já foi e nada sobrou do regozijo.
Escuta-se a utopia como exemplo e como preparação.
A seguir virá o nada e por ser menos, não é.
Ainda assim, suspiramos de alívio pelos riscos que não corremos...

Beatriz Teresa

(post anterior)

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