Extractos puros da comunicação de Stanislav Oreky, poeta Estónio, traduzidos do original por Eurico Tudela Eleutério, especialista em cultura Estónia em geral e especialmente em Nwhorbh Nhad, escritor Estónio/Letónio transsecular, várias vezes quase-candidato ao Nobel, que permaneceu obscuro até aos nossos dias.
"Meus caros amigos da Literatura Inclusa. Tenho dedicado a minha vida, e especialmente a última década, a um sonho que tive ainda jovem, uma espécie de visão transcendente que me revelou a utopia de um dia, num futuro improvável, podermos ler um livro sabendo à partida que era literatura inclusa, isto é, boa e recomendável, saudável, sustentável, que não agredisse o ambiente nem fosse prejudicial ao bom entendimento dos povos. Na altura do meu sonho o meu país estava ocupado e os meus adversários afirmam hoje que eu só me preocupava porque estava em causa a minha liberdade. Quando lancei em 92 o meu livro «Frágeis são as estrelas», fiz questão de o acompanhar por um documento passado pelo Instituto Estoniano de Qualidade (IEQ) em que se garantia que todos os materiais utilizados, incluindo as palavras, estavam isentos de cloro, amianto e derivados tóxicos do benzeno. Essa atitude foi considerada revolucionária por uns e ridícula por outros. Penso hoje que foi as duas coisas ao mesmo tempo. Porque há vinte e quatro anos ainda não sabíamos nada sobre os perigos da literatura. Foi por isso uma atitude revolucionária devido ao seu carácter introdutório e foi uma atitude ridícula porque mostrou a minha ingenuidade sobre a diversidade de perigos que rodeia a LI.
Outra inovação que acompanhou «Frágeis são as estrelas» foi a edição conjunta de um manual de instruções. Se para a maioria dos livros é recomendável a existência de um manual que possa dar acesso ao bom entendimento das intenções do autor, de maneira a não gerar interpretações dúbias, para um livro de poesia esse manual é absolutamente indispensável. Seja como for nenhuma destas atitudes teve seguidores. Continuo a ser o único autor que, preocupado com a LI e com os leitores, associa a cada obra nova os elementos necessários ao cumprimento de normas que o futuro tornará elementares.
A generalização da protecção do consumidor vai levar, mais tarde ou mais cedo, à criação de organismos de protecção dos leitores. Eu sei que essa não é a função deste congresso que reúne essencialmente os produtores de LI. Mas devemos antecipar-nos às exigências dos leitores. Devemos estar um passo à frente. Devemos ser nós a definir os paradigmas. Temos sabido adivinhar estes anos todos as tendências da moda literária e propor, com bastante sucesso, LI capaz de despertar o entusiasmo dos leitores actuais. Temos também de ser nós a antecipar as exigências que o leitor nos vai fazer no futuro."
(continua)
Torcato Matos
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