domingo, setembro 10, 2006

A dificuldade de ler (51- C4/P3)

"Em primeiro lugar o 7CILI deveria aproveitar esta rara oportunidade de agrupar a fina flor da LI aqui em Pexiligais para impulsionar a criação de uma estrutura mundial capaz de coordenar os enormes desafios que o futuro próximo nos vai colocar. Só com uma estrutura dessas, que pudesse ultrapassar o carácter amador que nos tem caracterizado, poderíamos empreender com sucesso outras iniciativas com volumetria e ambição superiores às que têm até aqui sido desenvolvidas individualmente.
Em seguida o 7CILI deveria aprovar um plano de acção que tivesse como meta uma programação clara de normas sobre a boa leitura e sobre a boa escrita e fomentar a criação de um lobby que pudesse pressionar os governos e as instituições internacionais no sentido de as tornar obrigatórias e de uso generalizado.
Como escritor de LI não sou um burocrata e como tal não sei como fazer embora saiba como desejar. O meu apelo é para a responsabilização do escritor e para a protecção do leitor. O primeiro, se tiver conhecimento dos parâmetros a que tem que se submeter para não lesar o segundo, terá certamente todo o gosto em cumprir as normas e o segundo, desde que devidamente informado, passará a procurar as suas leituras não através dos tradicionais meios corrompidos da opinião subjectiva e subserviente, mas por índices claros e objectivos, devidamente informatizados. Os escritores sentirão que o seu produto não terá efeitos secundários imprevisíveis e sentir-se-ão protegidos contra os processos que o actual vazio normativo potencia. Os leitores não recearão aproximar-se de um livro e ser inopinadamente agredidos de maneira física, psicológica ou moral, como actualmente acontece.
A definição de uma norma ISO, que garanta a qualidade da escrita e dos materiais utilizados, pode ser um dos primeiros passos. A aplicação do conceito de ponto verde ao livro é outro passo essencial. A classificação das obras por índices de sustentabilidade é outro elemento fundamental.
Suponho que no futuro, o simples mencionar de que uma determinada obra foi escrita de acordo com a norma de qualidade ISO 9000 será garantia de se tornar num 'best seller'. A qualidade é, como todos sabemos, aquilo que cada um de nós mais procura. O mesmo acontece com os leitores que estão, evidentemente, ansiosos por delegar a definição de qualidade em alguém em quem confiem e que esteja para isso devidamente habilitado.
O conceito de ponto verde deve ser estendido às obras de LI pela razão muito simples de que o que chega ao leitor é essencialmente embalagem. Aquilo que eu escrevo, como qualquer escritor de LI, é uma ideia, um conjunto de matéria mental que necessita de um suporte que apenas acidentalmente é um livro. Nesse sentido é um suporte efémero ao contrário da perenidade do seu conteúdo.
A classificação por índice de sustentabilidade é uma maneira de dar ao leitor a oportunidade de escolher entre obras avançados, isto é que incluem aquilo que de mais actual a LI dispõe, e obras nitidamente desactualizadas, que em termos ecológicos já se podem considerar perniciosas para o bom ambiente da leitura."
(continua)


Torcato Matos

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