Sente-se que a terra treme.
O alcance de uma bomba é sempre curto.
Um grande passo para um homem, pequeno passo para a humanidade.
Não se sente em lugar nenhum a não ser na curva logo a seguir ao lugar da morte.
Ontem soube que ninguém queria a salvação para o seu vizinho.
É agradável viver num mundo assim em que não se chega a sentir o pior.
Há uma margem bem definida e fica-se do lado de cá para o que der e vier.
Em todo o caso, seja qual for a insolência do tempo, o desvio de grandeza é sempre ínfimo.
Ninguém tem alcance na voz para se fazer ouvir para além da sua resguardada solidão.
A arte cénica do gesto hiperbólico também só é vista nas primeiras filas da plateia.
O aroma da violência não vai além do arame farpado que define o redondo da vala comum.
E o sabor da morte, quando chega, é intransmissível.
Poderia ser diferente?
Ontem fiquei a saber que os gestos humanos são encenados por especialistas.
Também ontem, numa tarde de emoções avulsas, se revelou o aspecto recorrente do medo e a evolução maciça do desespero.
Não há apelos a fazer, nem instruções ritmadas, nem gestos purificadores.
Não há soluções empacotadas, nem fórmulas químicas de correcção.
Não há modelos aperfeiçoados, nem justiça, nem sementes mágicas.
Não há pistas, nem praias, nem desembarques, nem almoços, nem gritos.
Não há processos arquivados, nem poder tolerante, nem saber gratuito.
O que há, é esquecimento.
Pura evanescência na memória, ou rumores perdidos e renovados.
O que há, é ver outra vez a mesma cena, já com outra matéria nos olhos e outra luz no horizonte.
E esquecimento.
E medo de perder, de ganhar, de sentir, de tremer no momento da perturbação.
Aconteça o que acontecer é irrelevante.
O sofrimento é uma coisa pessoal, reprimível, funesta e indeterminada.
Nada ocorre sobre a inocência bruta do rio que segue o seu desleixo próprio de milhares de anos de história sem pesadelos nem consequências.
Poderá não existir substantiva diferença entre o encaminhar rotineiro das vidas e a flutuação caótica das ondas a remar indolentes com a maré, razoáveis no seu mister e transparentes no horror que lançam sobre as outras formas de existência.
sexta-feira, julho 21, 2006
Alcance
zunido por sisifo at 11:50 da tarde
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