O agente da mudança é uma unidade de elite. É escolhido segundo critérios de exigência inacessíveis ao comum dos mortais. Natasha Kent é uma agente da mudança com a experiência de quase quinze anos de actividade ininterrupta. Na época em que foi recrutada, por ter concorrido aconselhada e recomendada por um histórico agente da mudança, os níveis de exigência eram ainda maiores e a média mínima de admissão rondava o 9,835* numa escala de zero a dez. Hoje Natasha Kent é uma profissional reconhecida embora só e apenas dentro do seu meio muito restrito dado o carácter secreto das suas funções.
A nossa sorte, do ponto de vista narrativo, evidentemente, é Natasha Kent preferir gozar as suas férias no inverno, ao invés da maioria dos seus concidadãos que escolhem o verão e a época mais bonita de Londres para sair da cidade, deixando-a entregue aos visitantes japoneses e portugueses. Podia dar-se o caso de Natasha, Peter e Elsa serem os únicos habitantes habituais a permanecer na cidade se isso não constituísse um situação insustentável do ponto de vista da verosimilhança. E apesar de sabermos que a realidade não é, por vezes, verosímel, quando a transpomos para a narrativa temos que acrescentar-lhe o mínimo de estranheza para que o leitor não tenha que esforçar demasiado o seu orgão de crença. Assim sendo, as probabilidades de intersecção permanecem baixas mas dentro do possível.
Era uma tarde de verão. Nem muito quente, nem muito fria, nem muito húmida, nem muito seca, nem limpa, nem muito nublada. Franz tentava demover a sua equipa de vendas de usar palavras menos próprias para com a concorrência: "Eu sou o chefe e por isso o único com capacidade técnica e moral para insultar os meus estimados adversários". A equipa de vendas não concordava. "O insulto," - dizia Anthony - "é uma arma popular, deve ser deixada nas mão de quem a sabe usar e o chefe há-de reconhecer que não tem a prática necessária, nem uma iniciação credível nesse campo. Não está em causa a capacidade técnica, mas o seu MBA não o preparou para adjectivar com precisão quando se trata de denegrir. Apenas o ensinaram a dar uma boa imagem das suas coisas. E o que é preciso agora é destruir a imagem dos outros." (continua)
* 9.835 no original
Torcato Matos
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