sexta-feira, julho 07, 2006

A dificuldade de ler (12- P/P12)

Quando cheguei a casa - apesar de isto não ter interesse nenhum - não consegui pregar olho. Ainda peguei no martelo e num prego mas o meu coração mole impediu-me com razões piegas. O universo tem a habilidade natural para incorporar as excepções. Quando aparece um vencedor o resto do mundo agrupa-se contra ele para o derrotar. Talvez eu me tenha vindo embora para não o ver perder.

Não vale a pena termos qualquer ilusão sobre o desenlace das histórias. Já nada acontece de relevante. Para sentirmos alguma coisa, passámos, os mais corajosos, a perfurar a pele com estiletes à procura da essência do prazer e dos ovos de ouro. Mas o remate dessa história já toda a gente conhece e aqui, neste momento optimista, há que ter esperança de a história não se repetir nem a moral ser sempre a mesma.

Tahar Ben Jelloun, dezassete anos, nascido no Reino Unido de imigrantes sobre-sarianos, residente num número ímpar da Portobello Road, com a tatuagem de um Tuaregue na nádega esquerda, apoderou-se da pulseira de brilhantes que tinha em cima um homem de vinte e cinco anos, magro e alto, mais magro que alto, com enorme e genética dificuldade em tomar decisões repentinas, pelas dezassete horas e vinte e cinco minutos do dia treze de Maio de mil novecentos e noventa e nove. Tanto o jovem como a pulseira são dados como desaparecidos o que significa que estão em parte incerta.
(continua)

Torcato Matos

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