sábado, julho 01, 2006

A dificuldade de ler (6- P/P6)

Perguntei-te apenas se me amavas, como se pergunta nos filmes, mas agora já percebi que não.” “O amor para mim sempre foi, só e apenas, o medo da ausência e o medo da presença. Todos os que amei até hoje foram os mesmos que eu magoei, e a todos eles receei magoar e a todos precisei de magoar. Não tive alternativa. Contigo não é diferente. Magoo-te todas as vezes que te digo alguma coisa e ficas magoado também quando ignoro o que me dizes e perguntas. É por isso que passei a ser absolutamente sincera sobre o que penso e sinto, mesmo quando não penso nem sinto nada. E se te digo que neste momento não sei dizer se te amo ou não, quase que te posso garantir que mal saias aquela porta sentirei o desejo absurdo do teu regresso e a angústia de não estares presente. É assim que eu sinto e é assim que eu sempre senti. Razão não tenho para sentir de outra maneira como não tenho para sentir desta.”

Ele, que não dorme nunca, entretanto adormeceu envolto no mistério de não saber se a amava, já que ela só o amava na ausência e ele na ausência nem se lembrava que ela existia. E as formas da existência e dos sonhos são sempre absurdas, inúteis em sentido lato, vertidas daquela intenção de sobreviver que vem de uma vontade interior inexplicável. Faça-se luz! E a luz fez-se.
(continua)

Torcato Matos

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