Lembro-me de já ter escrito esta mesma sequência noutra história e de ter apagado, um a um, os caracteres alternadamente localizados à frente e atrás do lugar original, fazendo surgir uma outra história com ainda menos sentido. Mas já percebi que é assim mesmo. De cada lado de uma narrativa, nascem várias que a completam ou destroem ou se tornam figuras autónomas de uma espécie de texto fundamental do universo. Eu não participo; estou aqui, por acaso, a servir de capacho aos reis e aos príncipes.
Ele tinha uma ponte muito longa para atravessar. No lugar marcado para o encontro não encontrara ninguém, porque estava lá, inesperadamente, gente a mais, gente de mais, mais do que gente. Ele não sabia justificar o que é que havia lá, mas não era um encontro assim que o movia e por isso removeu-se ao encontro de outro encontro do lado de lá da ponte que naquele momento, por razões que agora desconheço, se sobrepunha ao Tamisa. Os rios correm sempre acima do nível do mar, antes de morrerem, antes de naufragarem.
Não era previsível uma ponte extensa para atravessar um rio estreito. Para ele era uma agradável surpresa saber que demoraria mais do que o desejado e mais do que o necessário. Nada interessa se não tiver o seu tempo próprio, se não se medir pela dificuldade expressa com que se identifica na marca de água, no estrondo da queda de um corpo no líquido viscoso da noite. É provável que ele tenha pensado isto, ainda que não o fizesse com estas palavras.
(continua)
Torcato Matos
1 comentário:
enrolado na ondulação?
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